sábado, 4 de junho de 2016

Comentário ao texto 2 do tema 3 - Didática da história

De acordo com Proença (1989, p. 174) professor deve ter uma visão global do ensino para que possa estruturar convenientemente o processo de ensino e aprendizagem. Essa visão poderá fixar-se em três coordenadas básicas: “esquema conceptual; capacidades a desenvolver; os grandes problemas sociais em torno dos quais se irá desenvolver a aprendizagem.” O professor optará por privilegiar uma delas tendo em conta não só as suas posições pedagógicas mas também as características da escola e dos seus alunos, mas é desejável que haja “uma visão tridimensional do ensino que tenha em conta todos estes aspetos, embora pelas características, dos alunos, da escola ou dos conteúdos programáticos um deles possa, em determinados anos ser preponderante” (Proença, 1989, p. 175).



Proença (1989) defende que a planificação por unidades didáticas é a mais importante, aquela que muitas vezes se chama planificação de médio prazo. Obviamente, a planificação anual ou de longo prazo, tal como a de aula ou de curto prazo, continuam a existir e a ser fundamentais para organizar o ensino, mas é a conceção do ensino numa perspetiva de planificação por unidades que permite, de acordo com Domingos, citada por Proença (1989, pp. 175-176), centrar a aprendizagem no aluno que desenvolverá as aprendizagens com as orientações do professor, problematizará e formulará dúvidas, consultará diferentes fontes de informação, e irá caminhando “sucessivamente para os objetivos, que irá alcançando no decorrer da unidade, de acordo com o seu ritmo de aprendizagem.”
Os conhecimentos a transmitir e as capacidades a desenvolver em qualquer disciplina estão definidas nos programas oficiais, para além das metas curriculares a atingir. Não será possível gerir adequadamente o ensino sem uma planificação que articule as posições didáticas e o conhecimento científico do professor com os conteúdos a lecionar, as capacidades a desenvolver e as metas a atingir. A planificação não pode, no entanto, ser demasiado rígida. Deve ser um guia, uma orientação, que permita as alterações necessárias às necessidades dos alunos e à melhoria da qualidade das suas aprendizagens, pois a aula não é estática e cabe ao professor saber responder ao dinamismo das interações com os alunos de forma a melhor as aproveitar para mobilizar os alunos no sentido de aprender.



Proença (1989, p. 177) recorda que “há sempre determinados fatores que o professor terá de ter em conta quando planifica as suas aulas”: a dependência legal para com currículo, programa e metas curriculares; as características dos alunos, como o seu nível etário e o meio sociocultural e socioeconómico; as condições materiais da escola, que determinam a possibilidade de adotar determinadas estratégias de ensino, como “existência de audiovisuais, apetrechamento da biblioteca, possibilidades da reprografia, existência de salas específicas e de locais onde os alunos possam estudar e conviver”; finalmente, o meio, em particular nas aulas de História, pois é dependendo dos recursos disponíveis no meio que o professor poderá ou não aceder a certos recursos.
A planificação a longo prazo “visa, fundamentalmente, a gestão dos diversos conteúdos de ensino pelo tempo disponível para a sua lecionação” (Proença, 1989, p. 178), mas não se deve limitar a dividir os conteúdos pelos tempos previstos, mas sim a organizá-los tendo em conta os esquemas conceptuais subjacentes ao programa, normalmente resultantes nos temas organizadores que norteiam cada ano letivo e, dentro destes, as unidades didáticas que agrupam, por sua vez, subunidades, ou seja, “cada unidade didática, deve ter, por sua vez, uma linha conceptual de desenvolvimento que indica o fio condutor, inteligível e lógico, da interligação dos conteúdos” (Proença, 1989, p. 178).
Por seu lado, “o plano a médio prazo (plano de uma unidade didáctica) é a trave mestra da planificação do ensino, e, bem elaborado, pode substituir a planificação a curto prazo (uma aula)” (Proença, 1989, p. 180). Deve contemplar a definição da linha conceptual que explique a unidade; os pré-requisitos necessários à compreensão da unidade; os objetivos gerais e sua operacionalização em objetivos específicos; os conteúdos organizados respeitando a linha conceptual; as estratégias de ensino a utilizar, indicando também as atividades a executar e os recursos necessários; a avaliação, que permita aferir se os objetivos estão a ser atingidos através de observação direta ou testes de avaliação formativa; o tempo, que guiará o professor no número de tempos letivos previstos. A planificação a médio prazo deve ainda ser acompanhada de: material necessário à sua execução; a tabela de especificação dos objetivos e conteúdos; os materiais de avaliação formativa; os materiais de avaliação sumativa; atividades de remediação ou de enriquecimento; bibliografia utilizada. (Proença, 1989, pp. 180-181). Proença (1989, p. 181) afirma ainda que “convém ter presente que a planificação deve ter uma correta articulação horizontal entre todos os seus elementos e uma articulação vertical ou sequencial inteligível.” Essa planificação não deve seguir nenhum modelo em concreto, deve adequar-se e ser facilmente utilizável como instrumento de trabalho. Sem descartar a importância das planificações a curto prazo, que podem ser exigidas por “estratégias ou aulas específicas”, a autora reforça a ideia de que “uma planificação a médio prazo é a trave mestra da condução do ensino. Aliás permite que o ensino seja dirigido para a unidade como um todo, e não fragmentado aula a aula, o que é muito importante em termos de conceção da aprendizagem” (Proença, 1989, p. 181). A título de exemplo, segue abaixo um vídeo sobre a importância da planificação na lecionação de uma pequena unidade didática, filmado ao longo das três aulas que a constituíram, numa escola brasileira.




Bibliografia


Proença, C. (1989). Didáctica da História. Lisboa: Universidade Aberta.

Sem comentários:

Enviar um comentário