sábado, 4 de junho de 2016

Sobre a heteroavaliação e autoavaliação.

Tendo em conta que a heteroavaliação é aquela que é realizada pelo professor ou examinador, ao passo que a autoavaliação é realizada pelos próprios alunos, a avaliação feita pelo professor é frequentemente encarada como a atribuição de classificações, uma ideia errada, pois a avaliação formativa também é uma forma de heteroavaliação e essa avaliação é feita pelos professores e não se destina apenas a dar notas mas sim a melhorar as aprendizagens antes que as classificações sejam atribuídas. O feedback providenciado pelos docentes na avaliação formativa pode e deve ser complementado com os momentos de autoavaliação, uma vez que os alunos, ao avaliarem os seus próprios trabalhos e competências, as suas forças e fraquezas, estão a desenvolver a capacidade de se consciencializarem dos progressos das suas aprendizagens e ficam em melhor posição para que as informações dadas pelos professores no âmbito da avaliação formativa resultem numa melhoria das aprendizagens. O papel da autoavaliação é abordado, de forma clara, no vídeo seguinte.




Fernandes (2004, p.10) acrescenta, neste âmbito, que a avaliação foi considerada, durante muito tempo, como sinónimo de medida: “a avaliação era uma questão essencialmente técnica que, através de testes bem construídos, permitia medir com rigor e isenção as aprendizagens escolares dos alunos”. No entanto, não deve ser encarada como apenas uma medida, uma forma de classificar os alunos, pois Fernandes (2005, p.7) refere que a avaliação das aprendizagens deve ser parte integrante do próprio processo de aprendizagem, pois só se a avaliação contribuir para a melhoria da aquisição de saberes é que se torna relevante. Para tal,

é necessário: a) recorrer a tarefas de avaliação mais abertas e variadas; b) diversificar as estratégias, as técnicas e os instrumentos de recolha de informação; c) desenvolver uma avaliação que informe, tão claramente quanto possível, acerca do que, em cada disciplina, todos os estudantes precisam de saber e ser capazes de fazer; e d) analisar de forma deliberada e sistemática a informação avaliativa recolhida junto dos alunos.

Assim sendo, reforça-se aqui a importância do papel da avaliação formativa, que deve estar também associada à autoavaliação, de acordo com Fernandes (2008), na medida em que “o feedback é importante para ativar os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos, que, por sua vez, regulam e controlam os processos de aprendizagem” (Fernandes, 2008, p. 356). Os alunos devem ser sistematicamente envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, responsabilizando-se pelas suas próprias aprendizagens, autoavaliando-se regularmente: “as aprendizagens significativas são reflexivas, construídas ativamente pelos alunos e autorreguladas. Por isso, os alunos não são encarados como meros recetores que se limitam a «gravar» informação, mas antes como sujeitos ativos na construção das suas estruturas de conhecimento.” (Fernandes, 2004, p.7) É essencial a troca de informações entre o professor e os alunos, para “que todos os alunos devem tomar consciência dos seus progressos e/ou dificuldades em relação às aprendizagens que têm que adquirir. É através da comunicação que os professores também poderão perceber as alterações que necessitam de fazer para que o seu ensino vá ao encontro das necessidades dos seus alunos” (Fernandes, 2004, p. 20). A filmagem seguinte, de uma mesa redonda sobre este tema, oferece algumas perspetivas sobre o assunto.




As tarefas que os professores propõem aos alunos serão, idealmente, tarefas onde se aprenda e avalie ao mesmo tempo, em ligação com outras disciplinas do currículo, “tarefas de aprendizagem mais diversificadas e relacionadas com a vida real, a utilização de materiais manipulativos, o envolvimento em projetos destinados a resolver situações problemáticas ou o recurso ao trabalho de grupo” (Fernandes, 2004, p. 17). Nas aulas deve criar-se um ambiente que induza “uma cultura positiva de sucesso baseada no princípio de que todos os alunos podem aprender” (Fernandes, 2008, p. 357). De acordo com o autor, é este tipo de avaliação o que pode melhorar significativamente as aprendizagens dos alunos, pois é uma avaliação organizada de forma a possibilitar-lhes que aprendam mais e melhor.
Fernandes (2007, p.588) afirma que a avaliação formativa deve predominar sobre a avaliação sumativa, “destinada a classificar e a certificar os alunos, deve ocorrer apenas para fazer balanços globais sobre o que os alunos sabem e são capazes de fazer.”
Ambos os tipos de avaliação devem coexistir: “A ideia de considerar a avaliação formativa e a avaliação sumativa como complementares baseia-se no pressuposto de que ambas contribuem de formas particulares para avaliar cabalmente o que os alunos sabem e são capazes de fazer.” (Fernandes, 2008, p.362). Fernandes (2004, p. 24) acrescenta ainda que a avaliação é mais significativa enquanto instrumento educativo e formativo “quando os professores organizam o ensino e promovem um ambiente de trabalho em que os alunos participam mais ativamente na resolução de uma diversidade de tarefas cuidadosamente selecionadas.” O vídeo seguinte ilustra a importância da avaliação formativa e qual o seu papel e contributo para as aprendizagens dos alunos, assim como ilustra o papel classificatório da avaliação sumativa.




Em suma, e para terminar, na opinião de Fernandes (2007, pp. 588-589) a avaliação formativa faz parte integrante do processo de ensino-aprendizagem, é indissociável da autoavaliação, depende da utilização de diferentes estratégias e métodos de avaliação, implica o envolvimento sistemático dos alunos nas suas aprendizagens, sempre dependendo do feedback dos professores, que deve ser sistemático.

Bibliografia

Fernandes, D. (2004). Avaliação das aprendizagens: uma agenda muitos desafios. Lisboa: Texto Editores.

Fernandes, D. (2005). Avaliação das Aprendizagens: Reflectir, Agir e Transformar. In Futuro Congressos e Eventos (Ed.), Livro do 3.º Congresso Internacional Sobre Avaliação na Educação, pp. 65-78. Curitiba: Futuro Eventos.

Fernandes, D. (2007). Avaliação das aprendizagens no sistema educativo português. Educação & Pesquisa, 33 (3), 581-600.


Fernandes, D. (2008). Para uma teoria da Avaliação no domínio das aprendizagens. Estudos em Avaliação Educacional, 19 (41), 347-372.

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